Os estudantes que concorrem a uma vaga na universidade e estudam exageradamente às vésperas das provas podem ter sua classificação comprometida. Cansados, eles podem sofrer um "apagão" no momento em que estiverem respondendo às questões e puxando pela memória. Professores e médicos concordam que a ânsia, a pressão dos pais e a auto-cobrança, além do esforço físico e as poucas horas de sono podem alterar o raciocínio no momento em que mais os candidatos precisam da memória.
O neurologista Erasmo Barros reputa ao respeito às horas de sono parcela importante na realização de uma boa prova. Um adolescente, segundo ele, precisa dormir entre nove e dez horas por dia porque seu organismo – principalmente o cérebro - precisa desse padrão de descanso. "Se a pessoa não vem dormindo bem no dia-a-dia, o resultado é o desequilíbrio do mecanismo biológico do sono. Do contrário, a pessoa terá dificuldades de concentração e problemas de raciocínio", afirma.
Erasmo não vê problema em se trocar o dia pela noite estudando, contando que o repouso necessário venha durante o dia. Mesmo assim, ele não recomenda a prática porque a natureza programou o organismo humano para dormir à noite.
Evitar o esforço exagerado e desnecessário depende de planejamento nos estudos. Segundo o coordenador do ensino médio do Colégio Pio XII, Antônio Meira Leal, o aluno deve fazer uma grande revisão do assunto cerca de dois meses antes das provas. Na reta final, ele deve se deter mais em assuntos que normalmente são comuns às provas do PSS e que são muito importantes na série que ele estuda.
O professor Antônio Meira Leal defende que o candidato deve estudar, ao longo do ano, de duas a quatro horas por dia, porque só assim ele vai absorver todo o conteúdo.
A base é o idealDe acordo com a psicóloga educacional do Colégio Pio X, Maria das Graças Cavalcanti, para o estudante que vai fazer o Processo Seletivo Seriado (PSS), o ideal é que ele esteja estruturado com uma boa base desde o ensino fundamental. Às vésperas das provas, a psicóloga não recomenda uma revisão geral, porque a tendência é o aluno entrar em pânico.
A educadora sugere que o estudante organize horários de estudos e evite consultar vários livros de uma mesma disciplina ao mesmo tempo, porque cada um tem uma conotação diferente sobre o mesmo assunto, o que pode confundir o raciocínio. A melhor preparação é rever estudos dados na escola diariamente, revisando em seguida o conteúdo estudado em aproximadamente uma hora. Tudo isso, sem acumular conteúdo e ainda pegando em seguida os pontos principais. "Seguindo esse ritmo ao longo do ano, o estudante vai estar preparado para o PSS", garante Maria Cavalcanti.
No que diz respeito ao descanso, a psicóloga acha que há tempo de dormir e de estudar. "Quando extrapola o hábito de estudar o estudante acaba perdendo a capacidade de assimilar o conteúdo. Portanto, é necessário que o aluno relaxe para que não haja saturação da mente", explica ela.
Bizuradas longas prejudicamO diretor do 2001 Cursos, Roberson Vasconcelos, criticou o programa de escolas que promovem bizuradas que varam as madrugadas. "Isso é um erro. Da mesma forma que o professor cobra dos alunos planejamento nas suas horas de estudo, a mesma cobrança tem que ser feita à escola. Do contrário, não adianta o candidato sem bem planejado se sua escola continua extrapolando os horários e acabando com o espaço de descanso. Isso é um desequilíbrio".
Roberson também é contrário ao se aumentar a carga horária de estudos nas semanas decisivas. "O aluno tem que compreender que o PSS avalia o conteúdo de todo o ensino médio. Portanto, a preparação correta tem ser feita ano a ano. Só assim se acaba com essa parafernália de cursos preparatórios. Eles são apenas complemento para quem não está bem numa matéria ou outra".
A professora Eliane Vasques de Figueiredo, coordenadora do ensino fundamental e ensino médio do colégio Interativo (antigo 2001) diz que estudo e lazer tem que andar juntos para dar equilíbrio emocional ao estudante. "Pela experiência que tenho, posso dizer que ninguém pode extrapolar de um lado ou do outro. Só estando descansado e relaxado é que o candidato poderá absorver a carga de informações necessárias a uma boa prova", complementa.
A professora também critica a data do PSS, segundo ela muito tarde. O ideal, diz, é que as provas fossem feitas no máximo até a segunda semana de janeiro, para os alunos pudessem ter seu período de férias. "Na data em que foi definido, o PSS deixará os alunos com apenas 5 dias de férias, porque no dia 5 de fevereiro as aulas do ano letivo 2001 já serão iniciadas".
Bebidas energéticas viciamMuitos candidatos, na busca de garantir mais tempo para os estudos, tomam bebidas energéticas, muito em uso hoje em dia. Uma vez ou outra, o sacrifício pode valer a pena, mas ingerir sistematicamente esses produtos pode levar à dependência e até a problemas cardíacos – como a taquicardia, por exemplo – além de gerar efeito depressivo, diz o neurologista Erasmo Barros. Isso porque muitas dessas bebidas energéticas contém alta dosagem de cafeína e, algumas, até álcool.
Já o professor Antônio Meira Leal, do Colégio Pio XII, diz essas bebidas só poderiam ajudar se o aluno tivesse algum problema médico. Ele acha que o candidato não deve comprometer o sono por causa do estudo. "Estudar na hora do sono compromete a performance e o esforço do ano todo".
CobrançasNo período imediatamente anterior às provas é essencial a tranqüilidade e o relaxamento dos candidatos. Por isso, a natural cobrança dos pais pode atrapalhar o rendimento, segundo a psicóloga Maria das Graças Cavalcanti. Ela aconselha os pais a evitarem essa atitude, pois nesse momento a cobrança toma forma de conflito, gerando mais ansiedade.
Estudantes já evitam exageros
O estudante Rodrigo Macedo, que vai fazer pela segunda vez o PSS, revelou que não foi classificado no ano passado porque acabou confundindo tudo na véspera da prova. Na época, ele estudava no colégio, fazia cursinho e também o curso de inglês. Todo esse exagero acabou prejudicando seu rendimento na hora das provas o que lhe tirou a atenção e acabou lhe causando estresse mental.
Para as próximas provas, Rodrigo se revela mais calmo, fazendo apenas cursinho. Ele disse também que está estudando moderadamente sem nenhuma correria. Ao mesmo tempo, vem fazendo exercícios físicos, jogando futebol, namorando e saindo para assistir shows à noite, sem se exceder nas bebidas. Sua finalidade é permanecer relaxado para as provas do PSS que estão se aproximando.
No momento do resultado negativo de seu primeiro PSS, ele disse que recebeu apoio dos pais. Em casa, todos refletiram e chegaram à conclusão que houve exageros com tantos estudos e cursos ao mesmo tempo. "Agora, farei as provas sem o peso que eu estava sentindo no ano passado e espero obter bons resultados".
Rotina corretaMartinho Queiroga, 20, é estudante de cursinho e fará vestibular para o curso de agronomia. Ele segue uma rotina de no máximo 7 horas e meia de estudos por dia - 5 horas na escola e mais duas e meia em casa. "Não adianta querer ver tudo de uma vez agora. Já venho me planejando durante o ano".
Já Aline Duarte Barbosa, 15, estudante do primeiro ano do ensino médio, estuda quatro horas na escola e o restante do dia lê suas matérias a cada período de 30 minutos. Ela diz que não sofre a cobrança da mãe e explica que há tempo para tudo: "Estudo e me divirto, sem muita cobrança".
Alfredo Barbosa cursa o segundo ano do ensino médio e fará o PSS pela segunda vez. "Na escola, são quatro horas de aula e, em casa, me dedico às matérias que mais me interessam na área que pretendo seguir – matemática, química e física", quando fizer vestibular no próximo ano, disputará uma vaga em ciências da computação.
DificuldadeO estudante Diomar Leite Brito, afirmou que há dois meses vem intensificando os estudos para o PSS, mas revelou que só vem dando atenção especial às matérias que ele sente mais dificuldade. São as disciplinas de química e física. Ele disse que chega a estudar duas ou três horas por dia, mas o tempo maior é dedicado aos principais assuntos onde há dificuldades a transpor.
Diomar Brito disse que tem evitado sair à noite nesta fase final de estudos para que sua cabeça não fique conturbada.
Alimentação ajuda no equilíbrio
A nutricionista Érika Nóbrega, alerta que no dia anterior às provas os estudantes não devem experimentar alimentos que não estão acostumados a ter na mesa, nem devem utilizar preparações que não tenham o hábito de usar. Segundo ela, os estudantes que utilizam alimentos diferentes no dia anterior as provas podem passar por constrangimentos na hora do concurso e sentir náuseas ou diarréia.
Ela é de opinião que se o estudante prolongar os estudos pela noite – o que não é o correto – a cada três horas ele deve fazer lanches. Érika Nóbrega observou que há uma tendência do adolescente em não valorizar o café da manhã, mas é uma refeição muito importante.
O estudante deve manter sempre equilibrado o suprimento da glicose, afinal, disse a nutricionista, o cérebro se nutre de glicose pura. Durante os estudos, afirmou a médica, há um gasto muito grande de energia e por esta razão, todos devem fazer lanches ricos em vitaminas C e E, além de alguns minerais como magnésio, zinco e potássio, no meio da manhã e no meio da tarde.
Para ela, o fundamental é que o aluno não chegue no local das provas com o estômago muito cheio ou com o consumo de alimentos de difícil digestão. No dia das provas, o café da manhã deve ser rico em nutrientes, mas baixo em gorduras.
Diversão é essencialA psicóloga Maria das Graças Cavalcanti garante que o divertimento e o relaxamento são importantes para equilibrar o emocional. O que o estudante não deve fazer em hipótese alguma é ingerir bebidas alcóolicas ou ir a shows na véspera das provas, pois isso diminuiria a concentração. Na véspera se deve também conversar com amigos assuntos que não estejam ligados ao vestibular. "Muita conversa sobre as provas, pode provocar ansiedade", alerta.
O professor Antônio Leal acha que os estudantes devem se divertir sempre, mas devem preservar os momentos de rotina dos estudos. "A diversão é uma coisa que deve fazer parte da agenda dos estudantes até porque é uma coisa que compensa o esforço do ano inteiro e deixa o candidato mais confortável para as provas".
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